terça-feira, 22 de setembro de 2009

Finalmente o primeiro show!!

Estávamos ensaiando direto, o repertório estava na ponta da língua, só faltava arrumar uma banda pra dividir com a gente a noite. Pensamos no HEADACHE uma banda de crossover da área, que na época já tinha um público legal.

Fiz um cartaz e saímos pelo bairro pra colar. Era uma adrenalina quase igual ao tempo em que eu pixava as paredes, só que sem polícia dando tapa na cara e pintando nossas cabeças. Numa dessas achei que fosse morrer, estava pixando e veio um carro voado pra cima de nós, quando as portas se abriram, tinham dois caras com pistola na mão, já enquadrando e revistando eu e mais dois amigos. Quando acharam o birro não deu outra, tapa na cara, cabeça pintada, e aquela arma apontada pra minha testa.

Hoje vejo como era uma diversão idiota e inconsequente, poderia ter morrido por nada.
E pra tirar toda aquela tinta do cabelo? Tivemos que lavar a cabeça com querosene. Aí vai um conselho: NUNCA FAÇA ISSO! Queimei a minha cabeça toda, fora o cheiro que ficou. Quase uma semana depois, ainda se sentia o cheiro! Também, depois disso, piolho NEVER MORE!

Bom... voltando aos cartazes, primeiro show... a timidez imperava, como fazer pra vencer isso? Levar um som com os amigos em casa sem ninguém ver é uma coisa, fazer um show pra mais ou menos umas 50 pessoas era outra. Na noite do show não deu tempo nem de tomar banho e colocar um tênis, o dia voou, quando vimos já era hora de tocar. Banho pra quê? Tênis pra quê? Foi descalço mesmo.


Reparem na foto que estou descalço e com o baixo do MAX (headache) emprestado. Punk com cara de headbanger!!!

O equipamento era o mais sarapa possível, uma bateria SAEMA, com uns pratos que pareciam tampa de panela, a voz era ligada numa caixa CICLOTRON junto com a guitarra, (meu DEUS) e o baixo numa outra caixinha que não havia sido registrada pelo pai, nem nome a coitada tinha! O Vinícius já tinha trocado a JENNIFER por uma GOLDEN LES PAUL, menos mal. Já eu, tinha um baixo GIANINNI que minha mãe vendeu sem me falar nada, tive que pegar o podrão emprestado, (está comigo até hoje) um JENNIFER roxo. O show foi foda, apesar de tudo arrebentamos e a galera saiu de lá feliz da vida.

O HEADACHE fechou a noite, que diferença. Guitarra importada, baixão maneiro, pratos bons... showzão, mas pra gente já tinha sido ótimo, descobrimos que a galera podia gostar daquela tosqueira que a gente fazia. A timidez? Morreu afogada num copo de cachaça, ou sufocada atrás da cabeleira.

PF com a sua guitarra gringa! Não era pra qualquer um em 1993.

Max com o seu GOLDEN preto, depois desse veio um IBANES.

Depois disso fizemos outros shows, com direito a teco de amêndoa em praça pública e tudo. rsrsrs Se não desviasse a cara, tomava na testa. Nessa época tinham umas bandas despontando no cenário. Em Jacarepaguá tinha o CORAÇÕES E MENTES que depois virou KAMUNDJANGOS e hoje é DJANGOS já causavam um burburinho. Em todo o Rio de Janeiro estavam pipocando boas bandas, tinha o SOUTIAN XIITA, POINDEXTER, CABEÇA, SEX NOISE. Lembro de assistir a um show do GANGRENA GASOSA num buteco na Taquara que acho que só cabia os caras da banda lá dentro.

Resolvemos gravar nossa tão sonhada DEMO, arrumei um trabalho de ajudante de pintor numa oficina para poder conseguir a grana. Primeiro dia, o Zezinho dono da oficina virou pra mim e falou: "Lixa aquele Santana ali, que vamos pintar ele todo!" Em menos de 5 minutos eu já tinha lixado o carro todo, fui todo feliz avisar que o "serviço" já estava pronto, ele riu na minha cara e falou assim: " Tá maluco, eu quero esse carro fosco, o carro ainda tá brilhando!" Porra, deu vontade de chorar, o Santana era grande, esfolei minha mão toda, mas deixei o bicho fosco! Quem trabalhava comigo na oficina era o Macarrão, baixista de uma banda de THRASH METAL chamada MOM'S DEAD. Tempos depois, fomos tocar juntos numa banda chamada ESQUISITO PRA CACHORRO.

Consegui a grana pra gravar a DEMO do T.N.M., marcamos umas horas no estúdio do Gultje, baterista da PLEBE RUDE. Esse estúdio ficava em Botafogo, o pai do Vinícius levava a gente, depois ia buscar. Gravamos umas 5 músicas e estamos esperando até hoje a fita ADAT dessa gravação, ô cara enrolado... a gente também era faixa branca pra caralho.

Fitinha na mão, mesmo sem mixar direito, porque ele só levantou as músicas. E daquele jeito! Mandamos pra todos o ZINES que conhecíamos, nessa época o Sérgio escrevia um zine que ajudava bastante a gente na hora de divulgar. Uma vez chegou uma carta pra gente do Japão, acredite se quiser, uma menina que morava lá tinha ouvido falar de duas bandas que estavam despontando no cenário hardcore underground aqui no Brasil, uma era uma tal de RAIMUNDOS a outra era o T.N.M., mandamos a fita para o Japão, de um lado T.N.M. do outro RAIMUNDOS.

Um show memorável foi no saudoso GARAGE ART CULT, com as bandas: EMBRIÕES e SUB-ATITUDE. Quando chegamos no lugar, nos deparamos com alguns carecas. Tudo bem que aqui no Rio isso nunca foi muito sério, mas a gente era moleque e nunca tinha visto aquilo, uns trogloditas se agarrando no chão, acho que foi ali que surgiu a onda dos PITBOYS JIUJITEIROS.

Haedache na porta do Garage. Sentados Cacique e Max, atrás em pé Tatá e PF.

Quando subimos no palco pra tocar, tivemos a infeliz idéia de abrir o show com uma musiquinha assim: "É natal, é natal, careca não tem natal, pão na mesa uma cerveja tá tudo legal, oi!!" Não preciso nem dizer que a fúria se voltou contra nós, né? Três moleques cabeludos, zoando com os caras. Sei que eu olhava para o Vinícius do meu lado esquerdo e só via aquela cara de pavor, o Fabrício quase entrou no bumbo da bateria e eu queria correr, mas a saída era na direção deles, então o palco ainda era o lugar mais seguro. O show seguiu e nossos amigos do D.D.T. (Destruidores de Tímpanos) viraram a turma do deixa disso, e eles conseguiram, graças a DEUS, sou muito grato por esse ato de caridade da parte deles.


Esse era o D.D.T., com pelo menos uns 100kg à menos de banda. Baiano (embaixo), Marcel, Gustavo Ramones, Xaxá e Rafael.

No meio do set list resolvemos tocar uma música de uma banda oi chamada VÍRUS 27, foi quando eu gritei REPRECAAAAAAAAAAAAOS, caraca, o GARAGE veio abaixo, eu lembro de uma mina PUNK com um moicano grandão entrando correndo e a porrada comendo na roda lá em baixo. Acho que ganhamos os caras aí. No final ficou tudo na paz!

Certa vez a MTV inventou de cobrir um show no nosso amado ENCRUZILHADA BAR, show organizado em conjunto com o NECRÓFAGO, que viria mais pra frente se chamar CABEÇUDOS.

Definidas as bandas: POINDEXTER (pra levar público, assim a gente achava), D.D.T., BRONCOS, T.N.M. e NECRÓFAGO.
Show pronto, entrevistas antes do show e cadê o Fabrício? Ô moleque complicado... Nada do Fabrício e já estava quase na hora da gente tocar, eu já havia entregado a fita demo pra menina responsável pela matéria. Eu estava com a maior cara de cachorro sem dono e falando assim:" Vê o que você pode fazer pela gente".

Nada do Fabrício, a essa hora o pessoal já estava com pena da gente, achando que não íamos mais tocar. E eu puto dentro da roupa, foi quando o César, pai do Vinícius, decidiu ir lá na casa do Fabrício saber o que estava acontecendo. Entramos no carro e quando chegamos lá, vem o Fabrício com a maior cara de cú: "Meu pai me colocou de castigo, não vai dar pra tocar!" O QUÊ? TÁ MALUCO? Enfiamos ele dentro do carro, sequestramos mesmo. O César falou assim: "Depois eu converso com o seu pai!' Tocamos por último, foi um showzão.

Lembra da fita que eu entreguei na mão da mina da MTV? Pois é, foi parar na mão do baixista do BAD RELIGION que estava passando pelo Brasil, procurando bandas para o seu selo. Ser elogiados na MTV, pelo cara do BAD RELIGION, não tem preço. Semanas depois recebemos uma carta dos E.U.A., em nome da banda e adivinha quem perdeu sem ao menos ler? Acertou quem pensou Fabrício. A casa dele era a melhor pra receber correspondência. Só que ele não era a melhor pessoa pra receber!

Continua...

4 comentários:

  1. Caralho

    Essas histórias todas eu já sabia. Mas sempre que ouço caio na gragalhada.

    Pega leve se for das minhas.

    hahahahaha

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  2. Amor, você é muito engraçado, agora me lembrei porque me apaixonei por você. Tudo bem que no início eu não entendia muito bem o que você dizia mas você é uma figura! rsrs
    Na parte do DDT, consegui até ver a cena, o Xaxá com aquele jeitinho tentando apartar a situação...rsrs
    Continue escrevendo e preste atenção na pontuação. É só revisar.
    Adoro ler seus textos, você é muito talentoso, joga nas onze.

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  3. Alemão, agora que eu vi. Fotinha do DDT e na época com o Fabricio...

    Última vez que eu o vi, ele era batera de banda de pagode...

    PQP, Muito tempo.

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  4. Cara isso é lindo!!!!!!! Parabens pela banda que com muita dignidade tem orgulho do seu passado e num fica inventando caô como muitas hoje!! Longa vida! Vi show do NECROFAGO em sao jao de Meriti! Longa vida oi!

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