domingo, 29 de novembro de 2009

Europa.2002.

Chegou o tão sonhado momento, Europa aí vamos nós. Data de embarque 21 de Agosto de 2002. Sinceramente eu não tinha a menor idéia de como seria essa turnê, como seríamos recebidos e como seriam os lugares que a gente ia tocar. Eu só sabia de uma coisa, um mês na Europa tinha que ser bom!!

Fomos para o aeroporto Eu, Edgard e o Márcio, lá a gente ia encontrar o Davi e o Groba, que ia filmar os shows. Acho que esse é o sonho de muita banda e pra gente não era diferente, sair de Jacarepaguá, cu do Rio de Janeiro e partir rumo a Alemanha no velho continente.

Chegamos no Aeroporto e tivemos a surpresa de encontrar nossa fã número um, a Ana Paula, que também trabalhava na mesma loja que Eu e o Márcio.



Encontramos o Davi e o Groba e partimos, a gente só ia encontrar o Fábio no aeroporto de Frankfurt, ele tinha ido num outro vôo com a mulher dele. Foi a primeira vez que voei e a viagem foi bem longa e cansativa. cada um ficou num canto do avião e o fundo perto do banheiro era o ponto de encontro, onde a galera ficava tocando o terror. Do meu lado foi um chileno, eu estava na janela e sempre que eu ia ao banheiro de madrugada, ou ia esticar as pernas tinha que acordar o cara pra poder passar, coitado... isso era toda hora. O chileno só sorria, no mínimo por dentro tava querendo me matar.

Fomos pra São Paulo e de lá para a Suíça, só depois fomos pra Alemanha, uma baldiação do caralho. O Davi toda hora pedia "biritinha" e zoava a comissária de bordo, até que ela não liberou mais "biritinha" pra ninguém, neguinho já tava perdendo a linha. Na madrugada rolou um assalto no carrinho de guloseimas do avião, largaram o coitado sozinho lá no fundo, não deu outra, a reunião do fundo foi regada a muito chocolate. No vídeo você pode assistir alguns momentos dessa viagem. Reparem no Davi falando: "Estamos numa espectativa muito ansiosa..." rsrsrsrsrs

Reparem no vídeo abaixo, o senhor alemão caminhando completamente nu pelas ruas de Frankfurt!!





Pra mim tudo aquilo foi um verdadeiro choque cultural, quando saímos do aeroporto no scooby-doo móvel, depois de esperar quase três horas o Fabio chegar, o que vimos foram ruas muito limpas, e um trânsito muito bem organizado. Foi um trajeto bem longo do aeroporto pra casa de nossos amigos Priscila e Daniel. A gente já estava a três dias sem banho e já começava a coceira. Quando chegamos na casa do Daniel, descobrimos que a gente ia dormir no AJZ, o local de um dos nossos shows, pegamos um bondinho e partimos na madrugada pra lá. É uma pena que aqui no Rio não tenha a mesma estrutura que encontramos na Europa. Se não foram todos, quase todos os locais tinham dormitórios e a banda recebia sempre um jantar e no dia seguinte café da manhã, sem contar o cachê, que variava de 150 a 200 euros por show. Tocando todos os dias.

O AJZ é um bar com um palco em anexo nos fundos, decorado com redes do exército e muitos grafites na parede. Muito bacana o local.

Na noite que chegamos, bebemos e jogamos totó até de manhã. Na Alemanha foi a coisa que mais fizemos... dormir e acordar bêbados!!"



Continua...

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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Ouro Preto (traído pelo intestino).

Poucos dias antes de embarcar para a Europa, tínhamos dois shows pra fazer. Um em Ouro Preto (MG) e um outro, no Kachanga em Botafogo (RJ). O show de Ouro Preto, foi o Márcio Skiuzi que arrumou, ele já tinha ficado numa república lá uma vez e fez boas amizades, que rendeu esse show. E lá fomos nós, cinco cabeças dentro do corsa 1.0 do Márcio, 7 horas de viagem, mas chegamos bem. As melhores viagens são essas que tem um certo perrengue.

Foi uma viagem bem cansativa, mas estava todo mundo na maior pilha, porque tirando o Márcio o nosso quinto elemento, ninguém da banda tinha ido a Ouro Preto. A república se chama “VIRADA PRA LUA”, é uma república só de meninas, e a logo é algo tipo... uma silueta de uma mulher com a bundinha para o alto e uma lua atrás, bem sugestivo. Chegando lá, fomos muito bem recebidos, mas sinceramente eu não tinha a menor idéia de como e onde seria esse show.

Acho que tinha umas 6 garotas morando naquela república, e uma delas nos falou que a “festa” seria nos fundos da casa, que tinha uma área bem grande atrás. A princípio ficamos com aquela cara tipo: “Isso vai ser a maior furada!”, mas depois relaxamos e fomos conhecer a cidade. Ouro Preto é uma cidade muito bonita, e o legal é que tem gente do Brasil todo lá, realmente seria uma ótima oportunidade de mostrar o nosso som para os universitários da cidade.

A noite foi chegando, e o cansaço bateu forte. O carregamento de cerveja não parava de chegar, tinham dois freezers cheios até a boca e mais uma geladeira. Lá pelas 22 horas o corpo já tava pedindo um descanço, fui tirar um cochilo pra recobrar as forças para o show, até então não tinha ninguém lá, pensei: “Vai ficar vazio isso.”

Acho que levantei umas 3 horas depois, não dava pra andar lá dentro, cheio pra caralho!!! Geral bebendo os tubos, um frio da porra, aí bateu a empolgação. O Davi estava igual pinto no lixo, ficamos bebendo todas até chegar a hora do nosso show, quando eu vi lá no fundo, parecia ela... era ela mesmo? Não podia ser... era ela sim... a barraquinha de vaca atolada, hummmm que delícia. Enchi a cara de VACA ATOLADA. Não quis nem saber, 1, 2, 3 copões.

Comi demais, entre uma cerveja e outra eu vi uma menina linda, cabelo curtinho que não parava de me olhar. Fui lá conversar com ela, papo vai, papo vem, descobri que ela era de São Paulo e estava na cidade pra estudar, enfim... quando o papo estava caminhando para uns amassos, a vaca resolveu desatolar, vinha como ondas aquela maldita cólica abdominal, um frio da porra e eu suando igual um porco. Já estava me contorcendo todo dentro da calça. Com muita educação pedi licença e falei que ia voltar rapidinho, mal sabia ela que eu ia era esfaquiar o bode lá no banheiro.

Esse tipo de situação é FODA, porque a casa só tinha um banheiro e devia ter umas 300 pessoas naquela festa e eu agarrado com o vaso sanitário, imagina aí! A vaca na hora de sair virou um rebanho enfurecido e barulhento. O “rapidinho”, demorou pra cacete e quando eu voltei já tinha outro lá no meu lugar, no maior bate papo. Mas esse era o meu dia, ela continuava me olhando, fiz um sinalzinho tipo: “Larga esse mané e vem pra cá”. Ela veio, e eu fui pra galera, todo confiante, mas a VACA ATOLADA queria mesmo acabar comigo, ela queria me desmoralizar, eu tentei resistir, eu juro... mas não deu. Mais uma vez tive que correr para o banheiro, seria cômico se não fosse trágico. Eu sentado naquele vaso sanitário, pensando que poderia estar me esquentando naquela universitária paulistinha, mas não, o que eu consegui foi uma porra de uma diarréia filha da puta, devido a uma overdose de vaca atolada. Mas ainda restava o show, e uma coisa não saía da minha cabeça: "E se eu cagar no palco?"

Já estava preparando tudo pra subir e mandar ver aquele punk rock nervoso, quando chegou a polícia lá na casa. Foi a maior confusão, bate boca, empurra, empurra e conseguiram acabar com a festa. Resumo da ópera, não tocamos, eu quase caguei a alma e nem beijei na boca. No dia seguinte, mais 7 horas dentro do corsa e voltamos para o Rio felizes da vida.

E eu... uns 4 quilos mais magro!


- 1 e 1/2kg de costela de vaca sem gordura (pode ser feita com
fraldinha)
- 1 e 1/2kg de mandioquinha descascada.
- 6 dentes grandes de alho picadinho.
- 1 cebola grande picada.
- 1 e 1/2 pacote de caldo de costela.
- 1/2 colher de café de açucar.
- 4 colheres de sopa de óleo de soja.
- Pimenta do reino, manjericão e alecrim a gosto.
- 1 litro de água fervente.
- Sal a gosto.
- Salsinha a gosto.

Modo de Preparo:
Descasque as mandioquinhas e reserve. Limpe bem a costela retirando as gorduras, reserve. Em uma panela aqueça o óleo até atingir uma temperatura bem quente. Jogue o açucar e deixe fritar até que fique bem escuro, jogue a costela e deixe fritar até que fique bem moreninha, acrescente o alho e mexa bem até sentir o aroma do alho.

Em seguida acrescente a cebola e permaneça mexendo sempre. Quando estiver bem misturado, acrescente aos poucos a água, os pacotes de caldo de costela, a pimenta do reino, o manjericão e o alecrim (picadinhos), prove para verificar o sal (se estiver faltando acrescente até dar o ponto), tampe a panela e deixe cozinhar por aproximadamente 50 min (se a carne for boa já estará cozida, senão volte ao fogo mais 15 minutos).

Passado este tempo, abra a penela e verifique se a costela está no ponto (deve estar cozida mas não soltando do osso). Acrescente as mandioquinhas e deixe cozinhar por mais 7 minutos, até que fiquem macias. Sirva com arroz e angu (polvilhe com salsinha, fica uma delícia).


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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Fluminense, a volta pra fm (94,9).

Com a nossa participação no Planeta Xuxa, conseguimos um dinheiro que ajudou a pagar a passagem do Davi pra Europa. Cada um parcelou sua parte em cartões de crédito e finalmente compramos as benditas passagens.

A Planet Music era o nosso QG, nosso escritório, ali era onde tudo acontecia. No Downtown eu tinha tudo à mão, correios, serviço de boy, telefone, fax... Graças a Planet Music, conseguimos fazer muita coisa. Mandamos vários cd’s pra Europa, numa de divulgar o nosso som antes de desembarcar por lá de mala e cuia. Nessa época a minha vida pessoal estava um tanto conturbada, e as músicas de um disco novo já começavam a surgir.

Eu digo que o segundo disco do 8mm (Mucho Gusto) é um disco de egoísta, ele é praticamente todo escrito na primeira pessoa. Todo o transtorno de uma separação as vezes serve de inspiração pra letras bem legais. Acho que as melhores letras que escrevi, eu estava realmente muito triste.

Essa viagem veio bem a calhar!

Mas antes de ir pra Europa tinha muita coisa pra fazer aqui. A Fluminense estava voltando pra FM e fomos convidados a participar da festa lá na rádio. Vários artistas estavam dando seus depoimentos, e nós também estávamos lá. Eu me sentia muito bem naquela rádio, o clima era o melhor possível e o Zé Roberto sempre tratou a gente com muito respeito. Os cd’s promocionais da rádio saíram, e só dava pra ver a guitarra e a mão do Fabio na capa, mas ficou bacana.

As minhas lembranças de moleque com a Fluminense, são de estar quase sempre deitadão na cama dos meus pais ouvindo os programas da rádio. Lá em casa nunca teve aparelho de som (3 em 1), desses que a molecada estava acostumada a ouvir os rocks dos anos 8o. Eu ouvia sim, o que tocava no rádio (relógio) do meu pai, que nessa época tinha se convertido a Igreja Universal e ficava puto quando chegava em casa e o rádio estava sintonizado na Fluminense, ele falava que era rádio do diabo.

Com o meu primeiro salário trabalhando como extra-natal numa sapataria em Madureira eu comprei meus dois sonhos de consumo. Um 3 em 1 da gradiente e um shape novo da street line para o meu skate.

Mas a Fluminense era foda mesmo, nunca mais vai ter uma rádio como aquela. Programas como: “A hora do dinossauro” e “Night Session” fizeram a minha alegria de moleque. Lembro de passar uma tarde inteira gravando todo o Loco Live do Ramones, já no meu sonzão 3 em 1. Gastei umas 3 fitas mas valeu a pena!



Bom, voltando ao assunto da festa na rádio. Chegamos lá estava a nata do rock, era um entra e sai frenético do estúdio, no maior climão de festa mesmo. Todo mundo dando entrevista, inclusive nós. Mas o ponto alto desse dia pra mim, foi ouvir a entrevista do Dado Vila Lobos, perguntaram pra ele sobre bandas novas que ele achava que seriam boas promessas do rock, e ele falou 8mm e Leela. Pirei, na minha cabeça passou um filme... eu deitadão na cama dos meus pais ouvindo Legião Urbana no rádio relógio abençoado, fã absoluto e o cara fala que gosta da minha banda, surreal.

Tomei coragem e fui lá falar com ele na saída do estúdio, descobri que o Dado é um cara muito bacana e humilde, e que realmente gostava do 8mm. Falei que daria um cd pra ele na próxima ocasião que a gente se encontrasse e cada um tomou seu rumo.

Hoje, tenho 35 anos e sempre que escuto Legião Urbana, é como se um filme com lembranças da minha infância começassem a passar. Era um sonho sendo realizado, a minha rádio favorita voltando pra FM (94,9) e o guitarrista de uma das bandas nacionais que eu mais gostava, dizendo que curtia a minha banda.

Esse é o mundo do Rock, as possibilidades estão na sua frente, basta estar no lugar certo, na hora certa.

E a Europa? É logo ali...

Essas são algumas fotos que tiramos, para a Fluminense fm.



terça-feira, 10 de novembro de 2009

Planeta XUXA.

O Davi entrou na banda com os dois pés direitos de coelho na mão. A proposta de tocar na Europa ainda estava de pé, então fomos a luta pra levantar a grana pra viajar. Já estávamos colhendo os frutos do bom show que fizemos no Ballroom e os ensaios seguiam firmes, agora mais do que nunca, afinal... A GENTE IA PRA EUROPA!!!!

Convidaram a gente pra fazer um show no Méier e quem ia tocar era o BACKUP (SP), quem estava com eles era o nosso amigo Milton, que foi o cara que marcou muitos shows para o Cabeçudos em São Paulo. Eu só não lembro ao certo se fomos nós que colocamos eles ou eles que colocaram a gente pra tocar nesse dia, mas não importa.

Mais uma vez ficou provado o amadorismo que é aqui no Rio de Janeiro. O evento atrasou muito, e depois o organizador veio com um papo de colocar a gente pra fechar a noite, só sei que a gente ia tocar quase de manhã e pra mim não rola. Decidimos não tocar, vimos o show do BACKUP e já estávamos indo embora, quando uma menina veio falar com a gente, dizendo que queria muito ver o show. Explicamos os motivos pelo qual a gente não ia ficar e acho que ela entendeu, pra ela não ficar triste demos o nosso CD que tinha acabado de chegar da fábrica pra gente.

Algumas semanas se passaram e uma pessoa que se dizia ser da produção da XUXA me ligou convidando pra participar de um quadro que ia estrear no Planeta Xuxa, chamado TRIBAL. No início achei que era trote, mas ela me explicou que precisava de uma banda de Punk Rock e como ela não conhecia nenhuma, perguntou pra uma amiga, que tinha uma irmã (a menina que eu dei o cd) que gostava desse tipo de música. É, eu sei, é meio confuso mesmo.

Tudo acertado pra participar do programa, a produção passou o dia todo me acompanhando, no meu trabalho (putz, que engraçado), vida de artista! Saímos da loja, fomos pra minha casa onde toquei violão no meu quarto e com aquele papo: “Aqui é onde componho minhas músicas. Hahahaha Cara de pau demais.

Depois fomos para o estúdio, onde eles iam acompanhar nosso ensaio. Sem dúvida foi a melhor entrevista que demos e o VT ficou irado. O programa era um GAME entre duas “tribos” tipo: SURFISTAS X FUNCIONÁRIOS DA BOLSA DE VALORES, PATRICINHAS X FUNKEIRAS e o nosso... PUNKS (puta merda) X PAGODEIROS.

Primeiro, nunca fui punk e já na primeira entrevista a menina da produção pediu pelo amor de Deus pra eu não falar aquilo lá, depois fui entender o porque. A Marlene Matos era tolerância zero.

Segundo, valia 3 mil reais pra quem ganhasse a bagaça. Com essa grana dava pra bancar boa parte da passagem pra Europa, então virei o punk mais sujo do planeta. Eu nunca fui punk, punk era a vida que eu levava.

Eu queria ganhar, precisava ganhar! No meu time: Eu, Fabio, Davi, Edgard e o quinto elemento Márcio “O Sinistro”. Se eu não me engano a banda que jogou com a gente foi o Sorriso Maroto, eu acho.

O jogo era o seguinte: Cada grupo tinha que responder perguntas sobre coisas do dia a dia do outro grupo. Durante a peleja, a briga seguia empatada e no final a Marlene Matos deu um ultimato de 3 perguntas pra cada grupo. Nós tínhamos que perguntar coisas pra eles e vice e versa. Os meus companheiros e eu já estávamos sem munição e a criatividade fez a diferença. As perguntas eram sobre gírias mais usadas pelos dois grupos. Inventei muita merda!

Algumas pérolas:

- O que é PQD?
Os caras falaram um monte de coisas e não acertaram. Aí a Xuxa virou pra mim e falou com um sorrisinho de canto de boca: “Alemão, o que é PQD?”

Entrei com os dois pés no peito!
- Sabe aquela meleca pendurada na ponta do nariz, pronta pra pular? Pois é, parece um PQD (Paraquedista) né?

Eu sei, foi ridículo, golpe baixo, mas deu certo. E os 3 contos estavam ficando mais perto. Só que eles também tinham cartas na manga.

E ela perguntou pra eles mais uma vez:

- O que quer dizer: “O gambá tá babando?”

Responderam um monte de coisas já no desespero e não acertaram. E mais uma vez, tive que usar todo meu sarcasmo.

“O gambá tá babando, é quando o cidadão levanta o braço e se vê aquela roda enorme e molhada na camisa.”
Deu certo, e o legal era ver a cara de nojo da platéia.

A terceira pergunta, eu não lembro, o jogo acabou empatado e cada banda levou mil e quinhentos reais pra casa, pago em dinheiro na hora. O objetivo eram os 3 mil, mas tava bom, foi o dinheiro mais fácil que já ganhamos. Pra gente foi muito bom, não sei por que a gente estava ganhando um tratamento especial, não tomamos nenhum esporro da Marlene Matos, que esculachava geral no alto falante, até a Xuxa tomou esporro na frente de todo mundo, dava pena.





A Xuxa deu a maior moral lendo toda a letra de Cadáver Cucaracha no ar. O Fabio deu show no discurso no final citando a música “Imagine” de John Lennon. Foi tudo perfeito, pena que não foi ao ar.

Marlene Matos e Xuxa brigaram e se separaram e o programa acabou sem mesmo estrear. Coisas da vida. Foi bem divertido. $$$$

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sábado, 7 de novembro de 2009

Recomeço.

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Com a morte do Gralha tudo ficou muito incerto, decidimos continuar, mas faltava disposição e ânimo pra procurar um novo baterista. O Fabio tinha um amigo que havia tocado com ele em outra banda e segundo o próprio Fabio o moleque era um ótimo baterista. Marcamos uma reunião no Downtown na Barra, lá na Planet Music onde eu trabalhava, numa de trocar uma idéia e conhecer o Davi.

A primeira impressão não foi muito boa, quando vi aquele moleque magrelo cheio de piercings, com um colete punk e meia calça nos braços (alguns chamam de segunda pele), não achei que aquele garoto franzino ia ter força pra levantar as baquetas, confesso que fiquei um tanto decepcionado. Mas esse é um péssimo defeito do ser humano, pré-julgar as pessoas. O preconceito é uma coisa muito ruim.


Nesse meio tempo, o José Roberto Mahr me contou que um amigo dele estava montando um selo em São Paulo com distribuição da UNIVERSAL MUSIC e esse mesmo cara tinha gostado muito do disco do 8mm. Liguei para o tal amigo em São Paulo, ele se chama João Paulo e já havia passado por grandes gravadoras como diretor artístico, enfim...

Marquei uma reunião com ele no Fashion Mall em São Conrado e tivemos uma conversa muito agradável enquanto tomávamos um café. Ele me contou um pouco da sua história, e me falou que tinha montado seu próprio selo chamado FNM (Fábrica Nacional de Música) e que já estava distribuíndo algumas bandas gringas aqui. E me falou também que tinha gostado muito do nosso som e que pretendia sim lançar o nosso disco, mas que no momento ele estava sem capital pra investir em nós, e uma coisa que me chamou muito a atenção é que ele conhecia bem as músicas e as letras, percebi que ele realmente gostava da banda. Eu falei que o que eu precisava naquele momento era de uma boa distribuição e que do resto a gente corria atrás.

Tudo acertado, ele voltou pra Sampa pra cuidar do contrato e nós voltamos a ensaiar forte para os próximos shows. O Davi me surpreendia a cada dia e sem dúvida nenhuma era o melhor músico da banda, sem contar que se mostrou um bom amigo.

O primeiro show com a nova formação foi no Ballroom, no Humaitá. A rádio Cidade tinha um programa chamado A VEZ DO BRASIL e convidou a gente pra fazer um desses shows junto com o Los Hermanos, que nessa época estava lançando "O bloco do eu sozinho". Ficamos tão empolgados com esse convite que começamos a ensaiar muitas vezes durante a semana do show. Cada ensaio pra mim era como se fosse o próprio show, que burrice a minha, no dia D eu estava praticamente sem voz.





Tinha chamada na rádio toda hora e muita gente ouvia e me ligava, uma música ia ser transmitida ao vivo do show e a ansiedade só aumentava. No dia do show a fila já quase dava volta no quarteirão e a estimativa pra esse show era de recorde de público da casa. Fui na farmácia ao lado do Ballroom e comprei tudo quanto foi remédio pra garganta que tinha. Se fizessem exame anti-doping em mim com certeza eu não ia poder tocar. A gente estava com a equipe completa, Márcio Sinistro operando o P.A., o Max fazendo o som de palco e o Rafael era o nosso roadie. O Camelo me emprestou o amplificador dele e ainda regulou pra mim, tirando um puta sonzão.




Era um sentimento muito ruim de estar fudido, sem voz, por um simples e burro descuido. Nesse dia me senti muito envergonhado e com medo de na hora do show a minha voz não sair, mas no final deu tudo certo e foi um ótimo show. Encerramos com um cover da Plebe Rude (Até quando esperar?) e a música que foi para o ar, foi Simplesmente Simples e como previsto foi recorde de público do Ballroom e o Davi tocou pra caralho. Foi legal ver os amigos comparecendo, até o Vereza foi nesse dia. Essa foi uma noite inesquecível pra mim.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Adeus amigo.

Como falei anteriormente, é muito difícil manter uma ordem cronológica, até mesmo porque as coisas para o 8mm estavam acontecendo rápido demais e acabam se misturando.

O disco estava pronto, e por uma falta de comprometimento da dona da loja que eu trabalhava, ficamos de pés e mãos atados, sem poder lançar o disco.

Quando terminamos a gravação do "Simplesmente Simples", demos o disco pra muita gente. Uma dessas pessoas foi José Roberto Mahr, coordenador da rádio que sacudiu o Rio de Janeiro nos anos 80, a Fluminense FM. Nessa época a Fluminense estava na 540 AM e o Zé Roberto foi num dos shows que fizemos na Casa de Cultura Estácio de Sá, ele curtiu tanto o show e o disco, que colocou 3 músicas na programação da rádio e convidou a banda pra uma seção de fotos pra ilustrar as capas de várias coletâneas promocionais que iam sair pela Fluminense.

Esse mesmo show da Estácio eu odiei, erramos algumas músicas, enfim... sempre quis tudo bem perto do perfeito. Mas parace que isso não foi problema, nem interferiu na boa impressão que deixamos. No meio de tudo isso ainda recebemos o convite pra tocar na Europa e a proposta de lançar o CD por uma grande gravadora, tudo isso num curtíssimo espaço de tempo.

A gente estava muito feliz em poder conhecer outros países e ainda mostrar nosso som para os gringos, mas nem só de glórias vive o rock. Não conseguimos a grana pra pagar as nossas passagens, o acordo era que os shows seriam marcados e nós pagaríamos nossas passagens do bolso, mas com os cachês dos shows dava pra cobrir esses custos. Nosso grande amigo Daniel e a sua namorada na época Priscila, estavam morando na Alemanha e começaram a marcar shows pra gente junto com o Vasco que escrevia pra uma das revistas underground mais conceituadas de lá, a PLASTIC BOMB.

Nesse meio tempo o Daniel escreveu dizendo que tinha ido num show de uma banda Alemã e deu o nosso CD pra um dos caras e que eles gostaram muito e nos convidaram pra ser banda suporte deles na turnê, essa banda era o BEATSTEAKS, mas tinha um problema, eles só pagariam a gente no final da turnê e isso pra nós era muito perigoso. Como a gente ia fazer pra sobriver um mês sem grana lá? Então decidimos fazer a NOSSA turnê. Isso tudo aconteceu em 2001, e nós não conseguimos a grana pra viajar e como a gente ia fazer pra desmarcar tudo? Que desculpa a gente ia dar? Alguém no ensaio falou... "Vamos falar que o baterista morreu, sei lá... inventa qualquer coisa!"

E foi o que realmente falamos, só que não foi uma mentira. No dia 15/09/2001 morre Alexander Silva Patrício o nosso querido amigo e baterista o GRALHA.

Nesse dia eu tinha combinado com ele de ir no Néctar um bar que rola shows em Vargem Grande. Ia ter show do Cabeçudos e combinamos de ir juntos no carro dele. Fui pra casa tomar um banho e comer alguma coisa e ele passaria lá pra me pegar. Ele me ligou falando que já estava saindo de casa e não sei porque motivo desisti de ir, mesmo ele insistindo muito, preferi ficar em casa.

Por volta das três horas da manhã o meu telefone tocou, sentei na cama meio desnorteado, do outro lado da linha ouvi a voz no Max (ex-Headache) com a seguinte frase: "Alemão? Olha só, eu não sei dar esse tipo de notícia, por isso vai ser curto e grosso. Cara, o Gralha bateu com o carro e morreu!!" Eu comecei a rir, porque só podia ser piada, e de muito mal gosto por sinal, mas o Max não brinacaria assim, levantei e liguei para o Edgard e depois para o Fabio. Dessa hora até o enterro foi só angústia e pensamentos do tipo: "Se eu tivesse ido com ele? Talvez isso não tivesse acontecido, ou teríamos morrido os dois."

No acidente, foi exatamente o lado do carona que ficou em pior estado, na batida ele bateu com a cabeça e morreu na hora. Provavelmente estava sem cinto e tinha bebido bastante como ele sempre fazia.

Eu não queria mais começar tudo de novo, pensei em acabar com a banda, enfim... Mas foi a dona Nelcy a mãe do Gralha que veio falar pra gente não parar, e dar continuidade a banda que era uma das coisas que ele mais gostava.

E foi isso que fizemos!

"Quando um filho falece, não chore a mãe ao perde-lo: Erguei ao céu o olhar em prece e verá mais uma estrela.

Seu nome permanece como uma bela herança.

As almas não se separam por mais longe que pareçam estar, tem pra se unirem duas asas sempre abertas: A saudade e a esperança."


Sua mãe Nelcy

Gralha
05/03/1972
15/09/2001

E a ficha não cai... (Fabio Alemão)

Hoje o dia amanheceu tão triste
frio, nublado e um vazio no ar
Parece que a alegria não existe
somente a amizade e o desejo de fazer voltar

Um aperto de mão, um abraço e o silêncio
é o suficiente pra fazer chorar
só trago a lembrança de alguém bem contente
que tinha prazer em sorrir e sonhar
Não adianta não vou me esquecer
nunca me peça pra deixar pra lá!

Enquanto isso a gente vai levando a vida
com saudades mas jogando com a torcida
Já me disseram que é pra NÃO desanimar
sei que vai estar no palco quando a festa começar.


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domingo, 1 de novembro de 2009

Letras.


Quando comecei a ensair com o 8mm as músicas já estavam escritas, algumas eu havia feito pra tocar no Cabeçudos e outras eu escrevi depois que eu saí. O SETLIST estava pronto, tinhamos músicas pra quase dois discos. Vou colocar as letras aqui na ordem do CD, faixa à faixa. E no final de cada uma, as considerações.

Faixa 01. (Simplesmente Simples)

É sempre bom poder se expressar,
falando pra fora vão te respeitar,
mantenha-se vivo e sempre a sorrir.

Na melodia de uma canção,
sempre com a força de um belo refrão,
não é nada fácil, mas sei que vou conseguir.

Não é pecado querer ser feliz,
Por que eu tenho que apanhar e quase sempre pedir bis?
Tudo o que eu quero é viver em paz!

Viver a vida como as ondas do mar
que vão e que vem sem nunca parar
simplesmente simples.

Mas o preço é caro pra simplicidade,
não é qualquer um que tem essa capacidade
de ficar sozinho e se dar bem...
O jogo é duro, e zero à zero não é bom pra ninguém.

Não é pecado querer ser feliz,
Por que eu tenho que apanhar e quase sempre pedir bis?
Tudo o que eu quero é viver em paz!

"Essa foi uma música que escrevi nesse tempo de transição. Depois que saí do Cabeçudos e ainda estava pensando em montar uma outra banda. Considero Simplesmente Simples uma música bem positiva, tem uma vibe boa e de certo modo é uma música de renovação pra mim."

Faixa 02. (Caska Grossa)

Quase nem sempre é fácil dizer,
que após esses anos você fracassou,
mas tudo bem, o que passou é passado,
aproveite que agora a poeira baixou.
É muito fácil falar, sem saber o motivo real pelo qual...
Você não venceu.

Feche os olhos e sinta o que entra no ouvido e não consegue sair,
se a coisa esquenta, segura a marimba não deixa cair.
Pois o jogo é assim, se uns ganham outros tem que perder.
Nem sempre se ganha, hoje eu sou a caça vou ter que correr.

Quase nem sempre é fácil dizer,
que após esses anos você fracassou,
mas tudo bem, o que passou é passado
aproveite que agora a poeira baixou.
É muito fácil falar, sem saber o motivo real pelo qual...
Você não venceu!

"Caska Grossa por incrível que pareça, foi uma música que escrevi pensando no meu pai. Essa foi uma das músicas que foram escritas pra tocar no Cabeçudos e que acabou ganhando novo arranjo no 8mm."

Faixa 03. (Quem se Importa?)

Quando eu acordei, deu vontade de ir embora.
Não consigo crer, mas na verdade quem se importa?
Eu não tenho mais pra onde ir
ou um destino pra traçar.
Eu não posso, eu não quero me render,
eu não vou me entragar!!
Alguém me estenda a mão,
me dê uma chance pra eu mostrar quem sou.
Se por acaso algum dia eu não vier,
vocês sabem onde estou.

"Essa é a minha música favorita desse disco. Quem escreveu a maior parte dessa letra foi o Vinícius, na verdade quando peguei o rascunho dessa música tive que mudar palavras e reorganizar a idéia da música que já tinha uma melodia muito boa, tipo aquelas que grudam e demora pra você parar de assoviar. Ele me passou o esboço do que ele escreveu, levei pra casa e terminei parte da letra e base instrumental"

Faixa 04. (Minha Passagem)

Eu quero uma passagem pro céu,
sem burocracia, sem demora que eu odeio fila
e meus documentos quase nunca estão em dia.

Eu quero minha passagem pro céu! (2x)

Me dê seu CPF, identidade e título de eleitor.
Mas na última eleição eu nem votei doutor!
Você pode me explicar porque meu senhor?
Porque só tinha pilantra, safado e traidor!

Lamento por você ainda tem muito que pagar,
essa passagem é cara e não adiante pechinchar.
Não tem desconto, nem parcelo pra você.
Esse é o céu, e só a elite vem pra cá!

Eu quero minha passagem pro céu!!

"Uma vez eu estava conversando com o Marco do Djangos, e surgiu esse assunto da burocracia que há em tudo. Fiquei com essa idéia na cabeça e saiu essa música."

Faixa 05. (Tiro de Canhão "don't stop!")

Pronto! Já não vou mais parar.
O fato é que a atitude não vai deixar você ficar...
Morto! Preste muita atenção,
Abra o olho, o ouvido e se possível o coração.
Pois, já não quero viver
como um parasita vegetando igual a você.
É tiro de canhão, tijolada detonada que saiu da minha mão.

E eu grito BOOM!! Pra explicar a explosão.
O som que transforma qualquer situação em fato!
Que não dá pra explicar,
simplesmente acontece e não dá pra parar.
Hey!! Olhe pra mim,
quando digo que isso não vai ficar assim.

Me gusta de reggae,
me gusta punk rock
arriba muchachos,
DON'T STOP!

"Mais uma música que escrevi pra tocar no Cabeçudos. Gosto muito da dinâmica dessa música. Punk rock com ska cru e direto!"

Faixa 06. (Longe de La Ley)

Vivo caminhando por toda a cidade
sempre à procura de não sei o quê,
estou sempre tranquilo pois nada me abala.
Esse é o lugar onde sempre estarei
Longe de la ley!

"Lembro bem o dia que escrevi essa música. Eu estava descendo a Av. Niemayer em São Conrado onde eu morava. Ali em cima da mureta, caminhando até o Fashion Mall pra pegar o ônibus, veio essa melodia na minha cabeça e ficou o dia todo, até eu escrever os primeiros versos. É uma letra curtinha mas que diz muita coisa pra mim!"

Faixa 07. (O Tubarão)

Tá quase sempre com a prancha de surf,
de back ou de front você se dá bem.
Grande manobra mas que alegria,
só tenha cuidado com o tubarão.

O tubarão!

Na crista da onda você não vê nada,
desce rasgando não quer nem saber.
Virgem Maria que bicho danado,
se você der mole ele vai te comer.

O tubarão!

Pega a prancha vai pro mar,
põe a perna dentro d'água.
De repente uma fisgada,
nossa mais que emoção!
Só perdeu o pé direito,
isso quase não é nada.
Foi escolhido entre uma porrada
pelo nobre tubarão.

O tubarão!

"Depois de ver no Jornal Nacional que um conhecido meu que era surfista e morava no mesmo condomínio, e quase perdeu a perna pegando onda em Recife. Resolvi escrever sobre o assunto. A coisa mais estranha é que o apelido dele bem antes do incidente já era, CAPENGA!"

Faixa 08. (Sacudindo a Massa)

Sou persistente meu amigo e isso faz sentido
ser teimoso para mim é mais um incentivo
quando quero alguma coisa corro atrás o tempo inteiro
ou melhor, eu vou na frente pra chegar primeiro.
Não tem parada, não tem caô,
vamos sacudindo a massa seja onde for.
Quero ver quebrar, requebrar geral,
sei que isso não faz mal!

Sacudindo a massa!
Fica na moral!

Na baixada, do meu Rio de Janeiro.
A galera dá um gás é pogo loco o tempo inteiro.
É panela de pressão num fogão industrial
e o que se cozinha dentro é algo muito especial.
Desse prato eu garanto, você pode se servir.
É!! Pode até repetir
só tome cuidado com uma auto-combustão
ou uma indigestão.

Sacudindo a massa!
Fica na moral!

"Essa também era tocada no Cabeçudos, mas era num outro andamento. E eu mudei a parte da letra que dizia: "Sou Cabeçudo meu amigo, e isso faz sentido..." A palavra persistente ficou bem melhor!"

Faixa 09. (Na Cabine)

Entre quatro paredes, eu via o dia passar.
Por onde eu não sei, só sei que passou,
então deixa pra lá.
A necessidade faz com que um homem ature,
coisas que ele nunca pensou em aturar.
Oito horas por dia dentro de uma gaiola,
regime semi-aberto com direito à uma hora,
pra comer com muito gosto sua nobre refeição.
Dois hambúrgueres, alface, queijo e molho especial
tudo isso dentro de um pão.

Entre carros e motos, caminhões e utilitários
entra um monte de piranha e um bando de playboy otário,
ouvindo RACIONAIS e se sentindo marginal de condomínio
que só manda no playground.
Geração shopping center condenada a vadiagem
vivendo as custas da família, mas que puta sacanagem
chegou a hora da verdade e é agora...
se não gostou levanta o rabo e vai embora!

"Quando escrevi essa música eu trabalhava no estacionamento do Barra Shopping. Era foda ficar levantando cancela o dia todo pra um bando de pela saco mal educado. Na hora do almoço não tinha jeito, o vale que a gente ganhava quase sempre era pra comer no MC Donald's. Meu horário era de 17 horas até 24:30, era foda aturar os filhinhos de papai indo pro Rock in Rio Café nos finais de semana. Uma vez, eu estava quase na hora de ir embora, cheio de sono. Parou um carro do lado da cabine pra pegar o papel do estacionamento, quando o vidro desce, o filho da puta estava com uma máscara de diabo. Não era uma mascarazinha baratinha do Saara não, era das caras bem feitas e bem reais. Porra, dei um pulo da cadeira com o susto e ainda tive que aguentar as gargalhadas."

Faixa 10. (Briga de Galo)

Não é o que parece ser,
fogo cruzado ou ilê aiê.
Briga de galo não é carnaval
e a poeira que sobe é serragem de pau.
Sinta a emoção debaixo das penas,
dois corações batendo à mil.
Aqui não é mais que uma simples arena,
pra ser sincero é mais um covil.

Viu? Eu disse pra você!
viu? O que tem a dizer?

Espora na carne marca o surdão,
é bem sagaz o da percursão.
Mete a porrada pra leventar
põe gás aí então, vamos lá.
O que sobrar a gente põe na panela,
o perdedor dá um belo jantar.
Só peço que guarde pra mim a moela,
esse daí nunca mais vai brigar!

Viu? Eu disse pra você!
viu? O que tem a dizer?

"Briga de galo foi escrita pra um tio meu, que tinha rinha em sua chácara. Eu era criança e muitas vezes via ele trazer o animal desfalecendo e entregando pra minha avó cozinhar. Muita crueldade!"

Faixa 11. (Loucos)

Somos loucos, todos felizes,
vivemos aqui e nos tratam como animais,
as vezes nos batem, nos chutam nos prendem,
mas nós somos loucos pra nós tanto faz.
Aqui no manicômio é muito legal,
eles nos dão comida que a um cão faria mal.
Aqui todos vivem, todos iguais,
na mesma merda tratados como animais.

Falo, falo, você tem que me escutar,
não aceito a lei do silêncio não vou me calar.
Não ponho o rabo entre as pernas, não aceito omissão,
pode falar o que quiser, só não me encoste a mão.
Na verdade é muito fácil basta acreditar,
sou mais um louco natural de Jacarepaguá,
Cidade de Deus, Taquara tudo em cima,
tiro pro alto mais uma bala perdida!

"Essa foi mais uma letra escrita em parceria com o Vinícius. A primeira parte ele escreveu e eu só tive que complementar com uma segunda parte."

Faixa 12. (Cadáver Cucaracha)

Tá lá um corpo estendido no chão
prepare os peritos pra reconstituição.
Mataram a coitada pela manhã,
jogada, largada trás do sofá.
Um criminalista aqui por favor,
bata uma foto não vou arquivar.
Os peritos chegando, manda entrar.
Não toquem em nada, um café por favor!

A imprensa lá fora querendo entrar,
me diga uma coisa, foi facada ou tiro?
Rádio, jornal e televisão...
aguarde um momento, já já eu te digo.

Foi levada às pressas para o IML,
descobriram RAID veneno mortal,
ingerido durante o café da manhã.
Coitada tão nova que morte brutal!
Existe a suspeita de novos cadáveres.
Será que algum tipo de seita?
Vamos abafar esse caso agora,
fique tranquilo, nossa parte foi feita!

"Cadáver cucaracha é uma analogia com as manchetes de jornais. Aqui estou dando bastante ênfase a morte de uma barata!"

Faixa 13. (A raiva)

Porque tanta maldade?
Porque tanta loucura?
Estamos regredindo, precisando de ajuda.
Para o nosso próprio bem, precisamos repensar,
todos os nossos valores, isso vai ter que mudar!

Eu não quero mais viver assim!

A mercê da violência, sem saber se vou durar,
pra ver minha filha crescer e o próximo inverno chegar.
Um sentimento de revolta toma conta de mim,
não quero mais impunidade, isso não pode mais ficar assim!

Eu não quero mais viver assim!

Não dá pra fugir, não dá pra escapar.
Seja onde for, ela vai estar lá.
Pronta pra te consumir, pronta pra te devorar,
toda essa raiva, um dia vai te matar!
Te matar!

"Quando a Dominique nasceu, veio junto muita insegurança. Não era mais só EU contra o mundo, agora havia uma criança que dependia de mim. E é aí que você para pra olhar a sua volta e percebe que vive num mundo violento e cheio de injustiças. Na verdade é besteira achar que devemos fazer um mundo melhor pras nossas crianças. Devemos sim, criar crianças melhores pra melhorar esse mundo. Só assim haverá um futuro!"


Parte do encarte do CD Simplesmente Simples feito pelo Fabio.

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