quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Burn Berlin Burn.

Acredito que o melhor show de toda a turnê foi o de Berlin.

Berlin me pareceu muito com São Paulo, cidade muito grande com prédios altos. O local do show se chamava "La Casa", um prédio bacana, com estrutura de Bar e dormitórios e o bom e velho totó ou pebolim como preferir. Demos uma volta por Berlim, entramos num brechó e escutamos umas pessoas conversando em português, a gente já não aguentava mais ouvir tanto alemão e escutar algo tão familiar foi muito estranho, nos aproximamos e descobrimos que eram jornalistas do JB fazendo a cobertura das eleições que estava acontecendo na alemanha. Do nada o márcio pulou no pescoço de um dos caras, muito feliz em conversar com brasileiros novamente. Convidamos eles para o show e fomos embora.



Nesse show tocamos com o ZSK, uma banda alemã com fortes influências de Rancid.





Apenas duas bandas, muita cerveja e punkrock nas pick ups. Durante nosso show tinha sempre algumas pessoas que gritavam "Toca mais uma!" com um sotaque estranho. Perguntei se tinha brasileiro no meio da galera e descobri que eram alemães que aprenderam português e estavam lá pra curtir o show.

Dá gosto de ver a estrutura que as bandas undergrounds tem lá, tanto pra show, como pra merchandising. O ZSK abriu uma mala com um arsenal de cd's, camisas, adesivos e botons, muito legal. Eles é que eu achei que eram um tanto marrentos, não poderia deixar de comentar. Foi a primeira e única impressão que ficou.





Gostaria muito de lembrar e de ter os cartazes de todos os shows, mas infelizmente não foi possível juntar todos. Selecionei algumas imagens da aventura que foi essa turnê pela Europa.



Toda a galera reunida na casa da Claudia. Bons amigos que fizemos , somos muito gratos pela acolhida e a ótima recepção que tivemos.



Hotdog alemão, apenas um pãozinho pra segurar a linguiça que por sinal é muito boa!





Alguns lugares foram muito bons de tocar e outros bem ruins, esse foi um dos bem ruins. A casa que o nosso show estava agendado, fechou pra reformas e o cara que marcou as datas conseguiu esse lugar de última hora. O som era horrível, o lugar era feio, mas mesmo assim nos divertimos muito. Mais uma vez a banda se dividiu na hora de ter um lugar pra dormir. Eu fiquei com o Márcio e a Susi na casa do cara que armou o show, e o resto da galera dormiu na casa de um cara que era amigo do cara que organizou o show, deu pra entender?

Só que os caras eram um tanto estranhos, segundo relatos dos meus colegas de banda, as músicas que tocavam na "festinha" que fizeram eram de gosto muito duvidoso. Coisas do tipo: "I will survive" fizeram parte do repertório, bom... é melhor eu nem me estender porque vou acabar comprometendo alguns amigos que beberam demais!!








Com a Susi, nossa motorista, guia turistico e amiga. Uma paradinha para um café antes de ir para a Holanda. Esse foi um ótimo passeio.



















Essa foto tiramos assim que chegamos na Holanda, numa cidadezinha chamada Vaals.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

República Tcheca, só derrota!

Em meio a toda aquela confusão de ter que voltar pra Alemanha, e ter feito um show ruim e não ter encontrado o local do segundo show, fomos num supermercado. Estacionamos a van no sub-solo do mercado e subimos pra comprar mantimentos.

Entramos e enquanto pegávamos os produtos, percebemos que estavam nos observando, podia até parecer paranóia, mas não era. Mais uma vez estava acontecendo uma coisa que eu só tinha visto em filmes. Skinheads, é isso mesmo, carecas de suspensórios e tatuagens nazistas.

O Davi nosso baterista estava de moicano e chamava uma certa atenção, ainda mais num supermercado, e o Márcio com aquele cabelo pintado de vermelho e com a maior cara de latino doido também era alvo dos olhares. Eu só tinha visto uns dois skinheads por ali, e eles ficavam encarando o Márcio e o Davi, falando umas coisas que pelo tom posso até tentar adivinhar o que era. Um deles parecia muito alterado no celular, e esbravejava e gesticulava muito.

O Márcio ficou meio que cara a cara com um deles e mandou tomar no cu e um "Vai se fuder!!" no bom e claro português. Eu assistia a tudo meio que sem ser notado, acho que por ser muito branco não chamei a atenção dos caras. Quando as compras já estavam no caixa, nosso querido baterista resolve acender um cigarro dentro do mercado. A essa altura já não eram só dois, nem sei de onde brotou tanto careca, rapidamente um deles tratou de chamar um segurança pra colocar o Davi pra fora do mercado. Só Deus sabe o que poderia ter acontecido com o magrelo se o segurança não tivesse um pingo de bom senso.



Quem viu o filme "Selvagens da noite" pode ter uma idéia de como a gente teve que correr, os caras além de serem muito grandes, estavam com pedaços de pau. Como numa operação suicída corremos pra dentro da van com os caras na nossa cola, só via neguinho pulando pra dentro da van e a Susi arrancou cantando pneu, saindo em desparada. Muita adrenalina para um dia só!

Mas a gente ainda tinha que sair da República Tcheca, e eu não estava nos meus melhores dias, estava com muita dor no corpo e febre, acho que fiquei muito gripado por ter dormido na van naquele frio da porra. O Edgard voltou com o pessoal do Hijackers, a banda que abria os shows pra gente na turnê. E o resto, inclusive eu, fomos voltar na nossa van. No caminho passamos perto de Praga e a Mary mulher do Fabio nosso guitarrista, encheu o saco pra gente parar e tirar fotos. Eu estava me sentindo tão mal que não queria nem sair da van, e estava doido pra voltar pra Alemanha logo. Mas pensando bem foi até bom a gente ter parado, conheci um lugar lindo. A tal ponte de praga, os teatros, as contruções, são realmente impressionantes. Depois de um longo passeio a pé, e com a maior vontade de deitar no chão, voltamos pra van.


Essa foi umas das fotos que tirei em Praga, esse crucifixo tem vários detalhes dourados, muito bonito.

Deixamos a galera na tal cancela que entramos, e dessa vez eu como estava muito mal, fui com a Susi pela fronteira "legal". Quando chegamos fomos abordados, descemos da van, e um guarda falou comigo e não entendi nada, a Susi mais uma vez veio me socorrer, ele queria que abrisse a porta da van. Coitado, meteu a mão na maçaneta, quando correu a porta, ele libertou nada mais, nada menos que "O FEDOR DO INFERNO!!" A essa altura do campeonato a gente já nem sentia mais cheiro de nada, mas o guarda sentiu. Imagina aí, ar puro, derrepente um fedor horrível, quando ele sentiu aquele cheiro a reação dele foi muito engraçada. O guarda abaixou a cabeça e deu um sopro forte, como quem sente o cheiro de um peido muito fedido. Devia estar fedendo muito mesmo, pra ele fazer aquela cara. Pediram meu passaporte e o visto, apresentei os dois e ficou uma dúvida, como eu estava "saindo", sem ter "entrado"?

Como eu havia entrado com o resto da galera pela ruazinha com a cancela, não carimbei o meu visto. Isso deu uma merda, mas depois de muito desenrolo, finalmente fomos liberados, afinal, ninguém queria aquela van fedorenta parada ali muito tempo, concorda?

Pegamos o resto da galera e voltamos pra nossa querida Alemanha.

Continua...

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

8mm na Europa, a saga continua.

Depois do primeiro show viajamos tanto de VAN que nem sei qual foi o segundo lugar que tocamos. Como eu disse anteriormente a nossa van não tinha bancos na parte de trás e nem janelas, dependendo do horário era bem quente viajar lá atrás. A essa altura o Márcio nosso técnico de som, roadie, e outras coisas mais, estava meio que namorando a Susi a nossa motorista, então o lugarzinho lá na frente ao lado dela como co-piloto, quase sempre era dele. Vou fazer um resumo de alguns shows que fizemos.



Nesse show, tocamos num pub que ficava no subterrâneo, tipo um porão. O teto era bem baixo, se pulasse no palco batia com a cabeça no teto. Esse pub ficava dentro de um campus universitário. Durante o show tivemos alguns problemas com uns punks que entraram numa de boicotar, porque nosso disco foi lançado pela Universal Music, enfim... Sabe como é cabeça de punk. Mas no fim tudo acabou bem, e até compraram o cd.





O lugar era bem quente, mas foi divertido. Quando chegamos fomos jantar, e nos serviram um rango muuuuuito apimentado, eu gostaria de saber porque eles comem tanta pimenta? Eu já estava num ponto de chorar toda vez que ia ao banheiro, porque a pimenta não arde só na boca quando entra, ela arde pra sair também. Muitas lágrimas rolaram na Alemanha.




Esse é o cartaz do show mais tosco que fizemos, o lugar era irado. Era um esquema de um "teatro" com um bar e dormitórios no segundo andar. E o legal é que o governo mantinha esse local como um centro cultural. O Fabio, Davi, Groba e Daniel, foram ao show do NOFX e Bouncing Souls, como eu estava muito cansado e sem grana preferi ficar com o Edgard nesse local onde a gente ia dormir pra fazer o show no dia seguinte.

O show foi bizarro, na tarde do evento, inventei de fazer uma tatuagem, queria ter uma recordação da viagem. Passei a tarde toda com o braço para o alto, tomando agulhada. Antes do show, enchi a cara, bebi mesmo além da conta. Tanto que até caí no palco, e a tinta da tattoo escorria pelo meu braço. O tatuador, que não lembro o nome, me pegou pelo braço no final do show me levou para o banheiro e limpou a tatuagem toda, com o cuidado de quem fez uma "obra de arte".






Eu estava igual a um mendigo, precisava fazer a barba e cortar o cabelo, eu acho que era dia da "AÇÃO GLOBAL" lá na Alemanha, porque apareceu um maluquinho que cortou o cabelo de geral lá. Puta merda, Edgard de moicano... sem comentário.

Estava tão quente na Alemanha que eu só andava sem camisa, e bebia o dia inteiro. Esse lance de camisa preta pra manter visual não é comigo, prefiro o estilo laje de morro.



Depois fomos tocar na República Tcheca, a gente tinha dois shows pra fazer lá. Tiramos o visto aqui no Brasil, tudo certinho. Na hora de entrar, acabamos passando a pé por uma ruazinha com uma cancela que divide os dois países. Pouco antes de atravessar para o lado Tcheco, resolvemos parar nuns telefones públicos pra falar com a família. O Davi ainda estava no telefone quando a polícia chegou, e chegou de bicho mesmo. Abordando e revistando geral!

Eram uns 3 carros e na caçamba haviam alguns cachorros que pareciam estar com muita vontade de morder uns brasileiros, acho que por causa do nosso "tempero". E o davi no telefone, falando com o pai, solta a seguite frase: "Pai, tenho que desligar que a polícia chegou!" e desligou na cara do coroa, imagina como ficou o velho do outro lado da linha.

Os policiais queriam, porque queriam colocar os cachorros dentro da nossa van pra cheirar as coisas a procura de drogas. Porra, foi sinistro. Pensando bem, acho que deveria ter deixado o cachorro entrar, com certeza o mesmo iria a óbito, como diz o meu querido vizinho aqui.

Achamos um colchão num lixão e colocamos dentro da van pra ficar mais macio, só que isso só contribuiu para o mau cheiro que já estava, por conta de tênis e meias sujas, cerveja que derramou e cigarro.

Então, entramos na República Tcheca pela cancela que estava levantada e sem nenhum guarda, tudo isso depois de uma bela dura da polícia alemã. Como a nossa van não tinha bancos não poderímos passar pela fronteira "legal" do país, não na van daquele jeito. Então o Márcio deu a volta com a Susi de van e esperamos eles nessa rua depois que atravessamos a fronteira a pé. Já era noite quando eles chegaram, o lugar era bem estranho, perecia cenário de filme de terror, e a temperatura estava caindo bastante. Seguimos até o local do show, e descobrimos que não era muito legal. Tocamos pra meia dúzia de cachaceiros.



Nessa noite acabamos dormindo no palco, sacos de dormir e colchonetes espalhados pelo palco e foi ali que passamos a noite, alguns bebuns se recusaram a ir embora e também ficaram por ali. Eu tratei de grudar minha bunda na parede e dormi. O Márcio passou a noite em claro, depois que viu um cara barbudo chupando o pau do outro na madrugada, bem do seu lado. Ele falou que ficou com muito medo do cara querer fazer amor com ele também. De manhã descobrimos que tinha um dormitório com camas arrumadinhas pra gente. Uma boa comunicação é primordial! Já dizia o nosso velho gerreiro: "Quem não se comunica, se trumbica!"

A República Tcheca pra gente foi só derrota, o segundo show não conseguimos nem encontrar o local, acabamos indo parar numa casa onde estava tocando o Chumbawamba.



Depois da decepção e sem ter onde ficar, algum punk maluco sugeriu da gente ficar no squater onde ele "morava". Sem sacanagem nenhuma, foi a pior noite da minha vida!!
Era uma casa velha no alto de uma colina, um ótimo cenário para um filme de Stephen King. Não tinha luz e o frio já estava de rachar, lá dentro parecia ter muitos ratos e não tive coragem de ficar no chão. Corri pra van e me acomodei, fedia, mas não corria o risco de levar uma mordida de rato na madrugada. o Edgard veio atrás e se acomodou também, o resto da galera ficou lá dentro. Acho que foi a pior escolha que fiz na minha vida.

Na madrugada a van virou um freezer, sabe quando uma cerveja está muito gelada e chega a ficar "suada", a van estava assim por dentro. E uma tempestade de chuva e vento começou. Os meus ossos doiam de tanto frio, eu não conseguia dormir, e pra piorar, bateu uma vontade absurda de mijar. Tive que sair. Tentei colocar o pau pra fora mas estava muito frio e o bicho encolheu, tive mesmo que sair. Essa foi a noite mais longa da minha vida. Não gosto nem de lembrar. O Edgard? Dormiu tranquilamente enfiado até a cabeça num saco de dormir!

República Tcheca, continua...

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sábado, 12 de dezembro de 2009

Europa 2002 (Parte 2).

Nosso primeiro show foi em Bonn. Curiosidade – Bonn foi a sede do parlamento e do governo federal da república da Alemanha de 1949 até 1990, quando Berlim foi designada a nova capital da Alemanha.

Alugamos uma Van azul, tipo aquelas vans de carga, não tinha bancos, mas o preço que a Susi, (nossa querida amiga e motorista) conseguiu foi maravilhoso. Nos amontoamos na traseira e partimos. Já no caminho para o show o primeiro e grande stress da viagem.

Aí vai um conselho de quem já passou por isso, nunca leve sua mulher na turnê da sua banda, ainda mais se essa turnê durar um mês. As mulheres são complicadas demais, não vou entrar em detalhes, mas isso quase pôs fim na viagem antes mesmo de fazer o primeiro show. O Fabio levou a esposa e não foi muito legal.

Partimos pra Bonn, quando chegamos, encontramos um belo pub, como os que a gente só vê nos filmes. Um palco ao fundo e um belo bar a esquerda de quem está de frente para o palco. Nesse dia tocamos com uma banda chamada 1982, era a segunda banda do Dominic, baixista do The Gee Strings e eles tocavam somente clássicos punks dos anos 80.





O local estava lotado, vendemos muitos CD’s e camisas. Tinha gente de todo o tipo lá, skatista, punk, emo...





Fizemos nosso show como o de costume, redondinho, sem erros. E no final a galera começou a gritar coisas que pareciam mais um xingamento. Ficamos muito preocupados, afinal... não conhecíamos aquela língua. E alemão te dando bom dia parece que tá te mandando tomar no cu. A Susi veio falar com a gente que eles estavam pedindo bis. Que alívio! Eu me comunicava em português mesmo, era até engraçado eles olhando pra minha cara sem entender nada e eu largando o verbo. Mas na maioria das vezes o Fabio dava uma traduzida para o inglês!

Achei bem estranho, eu estava acostumado com aqueles shows em Caxias, São Gonçalo e Niterói, onde a galera se mata numa roda punk, agitando até sangrar. Na Alemanha eles observavam tudo atentamente, analisavam o show, prestavam atenção em tudo. Parecia um zoológico, onde os espectadores esperam atentamente o próximo movimento do macaco.

Nessa noite fomos dormir no apartamento do Dominic ali próximo ao Pub. Éramos 10 cabeças na casa do cara, muita gente pra pouco banheiro. Imagina aí!!




Eu provavelmente não vou lembrar de todos os detalhes e de todos os shows, vou selecionar as melhores histórias. Foi um grande erro não ter feito um diário da viagem. Muita coisa engraçada aconteceu, só essa turnê daria um filme.


Continua...

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