quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Adeus amigo.

Como falei anteriormente, é muito difícil manter uma ordem cronológica, até mesmo porque as coisas para o 8mm estavam acontecendo rápido demais e acabam se misturando.

O disco estava pronto, e por uma falta de comprometimento da dona da loja que eu trabalhava, ficamos de pés e mãos atados, sem poder lançar o disco.

Quando terminamos a gravação do "Simplesmente Simples", demos o disco pra muita gente. Uma dessas pessoas foi José Roberto Mahr, coordenador da rádio que sacudiu o Rio de Janeiro nos anos 80, a Fluminense FM. Nessa época a Fluminense estava na 540 AM e o Zé Roberto foi num dos shows que fizemos na Casa de Cultura Estácio de Sá, ele curtiu tanto o show e o disco, que colocou 3 músicas na programação da rádio e convidou a banda pra uma seção de fotos pra ilustrar as capas de várias coletâneas promocionais que iam sair pela Fluminense.

Esse mesmo show da Estácio eu odiei, erramos algumas músicas, enfim... sempre quis tudo bem perto do perfeito. Mas parace que isso não foi problema, nem interferiu na boa impressão que deixamos. No meio de tudo isso ainda recebemos o convite pra tocar na Europa e a proposta de lançar o CD por uma grande gravadora, tudo isso num curtíssimo espaço de tempo.

A gente estava muito feliz em poder conhecer outros países e ainda mostrar nosso som para os gringos, mas nem só de glórias vive o rock. Não conseguimos a grana pra pagar as nossas passagens, o acordo era que os shows seriam marcados e nós pagaríamos nossas passagens do bolso, mas com os cachês dos shows dava pra cobrir esses custos. Nosso grande amigo Daniel e a sua namorada na época Priscila, estavam morando na Alemanha e começaram a marcar shows pra gente junto com o Vasco que escrevia pra uma das revistas underground mais conceituadas de lá, a PLASTIC BOMB.

Nesse meio tempo o Daniel escreveu dizendo que tinha ido num show de uma banda Alemã e deu o nosso CD pra um dos caras e que eles gostaram muito e nos convidaram pra ser banda suporte deles na turnê, essa banda era o BEATSTEAKS, mas tinha um problema, eles só pagariam a gente no final da turnê e isso pra nós era muito perigoso. Como a gente ia fazer pra sobriver um mês sem grana lá? Então decidimos fazer a NOSSA turnê. Isso tudo aconteceu em 2001, e nós não conseguimos a grana pra viajar e como a gente ia fazer pra desmarcar tudo? Que desculpa a gente ia dar? Alguém no ensaio falou... "Vamos falar que o baterista morreu, sei lá... inventa qualquer coisa!"

E foi o que realmente falamos, só que não foi uma mentira. No dia 15/09/2001 morre Alexander Silva Patrício o nosso querido amigo e baterista o GRALHA.

Nesse dia eu tinha combinado com ele de ir no Néctar um bar que rola shows em Vargem Grande. Ia ter show do Cabeçudos e combinamos de ir juntos no carro dele. Fui pra casa tomar um banho e comer alguma coisa e ele passaria lá pra me pegar. Ele me ligou falando que já estava saindo de casa e não sei porque motivo desisti de ir, mesmo ele insistindo muito, preferi ficar em casa.

Por volta das três horas da manhã o meu telefone tocou, sentei na cama meio desnorteado, do outro lado da linha ouvi a voz no Max (ex-Headache) com a seguinte frase: "Alemão? Olha só, eu não sei dar esse tipo de notícia, por isso vai ser curto e grosso. Cara, o Gralha bateu com o carro e morreu!!" Eu comecei a rir, porque só podia ser piada, e de muito mal gosto por sinal, mas o Max não brinacaria assim, levantei e liguei para o Edgard e depois para o Fabio. Dessa hora até o enterro foi só angústia e pensamentos do tipo: "Se eu tivesse ido com ele? Talvez isso não tivesse acontecido, ou teríamos morrido os dois."

No acidente, foi exatamente o lado do carona que ficou em pior estado, na batida ele bateu com a cabeça e morreu na hora. Provavelmente estava sem cinto e tinha bebido bastante como ele sempre fazia.

Eu não queria mais começar tudo de novo, pensei em acabar com a banda, enfim... Mas foi a dona Nelcy a mãe do Gralha que veio falar pra gente não parar, e dar continuidade a banda que era uma das coisas que ele mais gostava.

E foi isso que fizemos!

"Quando um filho falece, não chore a mãe ao perde-lo: Erguei ao céu o olhar em prece e verá mais uma estrela.

Seu nome permanece como uma bela herança.

As almas não se separam por mais longe que pareçam estar, tem pra se unirem duas asas sempre abertas: A saudade e a esperança."


Sua mãe Nelcy

Gralha
05/03/1972
15/09/2001

E a ficha não cai... (Fabio Alemão)

Hoje o dia amanheceu tão triste
frio, nublado e um vazio no ar
Parece que a alegria não existe
somente a amizade e o desejo de fazer voltar

Um aperto de mão, um abraço e o silêncio
é o suficiente pra fazer chorar
só trago a lembrança de alguém bem contente
que tinha prazer em sorrir e sonhar
Não adianta não vou me esquecer
nunca me peça pra deixar pra lá!

Enquanto isso a gente vai levando a vida
com saudades mas jogando com a torcida
Já me disseram que é pra NÃO desanimar
sei que vai estar no palco quando a festa começar.


.

7 comentários:

  1. É parceiro , me lembro muito bem da nossa angústia neste dia ! Um dia depois do meu aniversário, passagem esta , que todo dia 14/15 de setembro em me recordo com muita tristeza . Mas enfim... temos que ter força todos os dia pra seguir em frente , e nuinca parar.
    Abçs

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  2. Infelizmente não pude conhecer o gralha, mas sei que ele era uma boa pessoa. È Fabio nossos pais esquecem de nos ensinar que a vida é muito mais dura do que se imagina e aprender isso na marra é foda.

    Abração veio juntos sempre estaremos !!!

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  3. Se eu não me engano fui eu que atendi esse telefonema, pq eu dormia do lado do telefone, e pude ouvir essa fatalidade, eu lembro muito do gralha na academia, sempre rindo quase nunca malhando, e sempre alvo das sacanagens dos flamenguistas pq nessa epoca o flamengo se tornara tricampeão em cima do vasquinho que ele era roxo, gente boa!
    OS BONS MORREM JOVENS!!!

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  4. eu odiei o gralha na primeira vez que o vi.
    na turma 1001 do colégio brigadeiro schorcht, em jacarepaguá.
    eu andava curvado para frente, era recalcado e meus ombros eram caídos.
    de cara, o gralha me chamou de corcunda de notredame, o que me causou uma antipatia imediata para com uma pessoa que era escrota e não tinha consideração com ninguém. pelo menos era o que parecia.
    talvez, o escroto ali fosse eu mesmo.
    bem, de qualquer forma, eu estaria fadado a guardar esse sentimento para sempre em relação ao alexander patrício, aka gralha, se não fosse um interesse em comum que nós dois íamos ter à mesma época: a música.
    comecei a tocar com a galera e o gralha acabou sendo presença constante nesses eventos.
    eu já não tinha rancor dele. aliás, rancor é uma palavra pesada. na verdade, eu acho que eu é quem deixei de ser escroto e pude aproveitar a amizade e a companhia dele.
    iríamos nos encontrar várias e várias vezes.
    éramos amigos.
    e por isso, compartilho com a imensa rede de camaradas que ele tinha as saudades.
    eu acredito até que ele tenha se tornado um fã da minha banda. e fico contente.
    acredito também que o gralha está trabalhando em outro plano, já que como estive com sua mãe num encontro, onde algo muito inusitado aconteceu, descobri que o gralha tinha uma certa espiritualidade que não mostrava ( ou será que era eu que não enxergava?).
    então, eu prefiro acreditar que ele hoje esteja em outro mundo, fazendo amigos, se divertindo e emitindo aquelas risadas que contribuíram para que ele tivesse esse apelido: gralha.
    fica com Deus.
    e obrigado, alemão, pelas lembranças que você trouxe.
    grande abraço.

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  5. Eu sei pq vc nao quis ir: pq vc é chato demais! Nunca quer fazer nada. Mas ainda bem que nesse dia vc nao foi...

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  6. porra eu me lembro muito bem desse dia. fui acordado com um telefonema as 5 da manha pelo edgar, e eu falei. fala edgar quem morreu??!!
    e ele, porra como vc sabe!!!!??? meu bom as 5 da manha vc me ligando com certeza alguem morreu! mas nao era uma morte de quem eu esperava infelizmente era do gralha. e la fui eu , peguei o carro as 5 da manha me lembro na epoca que tinha uma namorada bem chata desesperada que foi comigo . chegando la estavam todos com cara de passados pela situaçao e as vesez eu falava com o max por telefone ( foi o cara que viu o acidente e entrou em contato com a maioria dos integrantes do 8mm ) alem disso max e um puta amigo. bom, e max falava comigo no telefone que tambem era o cara menos abalado na hora . eu me lembro que todos estavam na porta da casa do groba mais ninguem tinha coragem de dar a noticia pra ela naquele instante
    nao foi covardia , mas foi sim no intuito de preservar alguns minutos e horas de sofrimento daquela mae....

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  7. É brother

    Amigos que se vão!!!

    Neste dia eu estava com ele no Néctar. Realmente, estavamos muito bêbados.

    Gralha era foda, sempre tinha uma piadinha pra contar e quando ele pegava no pé de alguém! PQP. Para quem ele aliviava era super engraçado ver neguinho caindo na pilha dele.

    Saudades deste cara.

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