domingo, 1 de novembro de 2009

Letras.


Quando comecei a ensair com o 8mm as músicas já estavam escritas, algumas eu havia feito pra tocar no Cabeçudos e outras eu escrevi depois que eu saí. O SETLIST estava pronto, tinhamos músicas pra quase dois discos. Vou colocar as letras aqui na ordem do CD, faixa à faixa. E no final de cada uma, as considerações.

Faixa 01. (Simplesmente Simples)

É sempre bom poder se expressar,
falando pra fora vão te respeitar,
mantenha-se vivo e sempre a sorrir.

Na melodia de uma canção,
sempre com a força de um belo refrão,
não é nada fácil, mas sei que vou conseguir.

Não é pecado querer ser feliz,
Por que eu tenho que apanhar e quase sempre pedir bis?
Tudo o que eu quero é viver em paz!

Viver a vida como as ondas do mar
que vão e que vem sem nunca parar
simplesmente simples.

Mas o preço é caro pra simplicidade,
não é qualquer um que tem essa capacidade
de ficar sozinho e se dar bem...
O jogo é duro, e zero à zero não é bom pra ninguém.

Não é pecado querer ser feliz,
Por que eu tenho que apanhar e quase sempre pedir bis?
Tudo o que eu quero é viver em paz!

"Essa foi uma música que escrevi nesse tempo de transição. Depois que saí do Cabeçudos e ainda estava pensando em montar uma outra banda. Considero Simplesmente Simples uma música bem positiva, tem uma vibe boa e de certo modo é uma música de renovação pra mim."

Faixa 02. (Caska Grossa)

Quase nem sempre é fácil dizer,
que após esses anos você fracassou,
mas tudo bem, o que passou é passado,
aproveite que agora a poeira baixou.
É muito fácil falar, sem saber o motivo real pelo qual...
Você não venceu.

Feche os olhos e sinta o que entra no ouvido e não consegue sair,
se a coisa esquenta, segura a marimba não deixa cair.
Pois o jogo é assim, se uns ganham outros tem que perder.
Nem sempre se ganha, hoje eu sou a caça vou ter que correr.

Quase nem sempre é fácil dizer,
que após esses anos você fracassou,
mas tudo bem, o que passou é passado
aproveite que agora a poeira baixou.
É muito fácil falar, sem saber o motivo real pelo qual...
Você não venceu!

"Caska Grossa por incrível que pareça, foi uma música que escrevi pensando no meu pai. Essa foi uma das músicas que foram escritas pra tocar no Cabeçudos e que acabou ganhando novo arranjo no 8mm."

Faixa 03. (Quem se Importa?)

Quando eu acordei, deu vontade de ir embora.
Não consigo crer, mas na verdade quem se importa?
Eu não tenho mais pra onde ir
ou um destino pra traçar.
Eu não posso, eu não quero me render,
eu não vou me entragar!!
Alguém me estenda a mão,
me dê uma chance pra eu mostrar quem sou.
Se por acaso algum dia eu não vier,
vocês sabem onde estou.

"Essa é a minha música favorita desse disco. Quem escreveu a maior parte dessa letra foi o Vinícius, na verdade quando peguei o rascunho dessa música tive que mudar palavras e reorganizar a idéia da música que já tinha uma melodia muito boa, tipo aquelas que grudam e demora pra você parar de assoviar. Ele me passou o esboço do que ele escreveu, levei pra casa e terminei parte da letra e base instrumental"

Faixa 04. (Minha Passagem)

Eu quero uma passagem pro céu,
sem burocracia, sem demora que eu odeio fila
e meus documentos quase nunca estão em dia.

Eu quero minha passagem pro céu! (2x)

Me dê seu CPF, identidade e título de eleitor.
Mas na última eleição eu nem votei doutor!
Você pode me explicar porque meu senhor?
Porque só tinha pilantra, safado e traidor!

Lamento por você ainda tem muito que pagar,
essa passagem é cara e não adiante pechinchar.
Não tem desconto, nem parcelo pra você.
Esse é o céu, e só a elite vem pra cá!

Eu quero minha passagem pro céu!!

"Uma vez eu estava conversando com o Marco do Djangos, e surgiu esse assunto da burocracia que há em tudo. Fiquei com essa idéia na cabeça e saiu essa música."

Faixa 05. (Tiro de Canhão "don't stop!")

Pronto! Já não vou mais parar.
O fato é que a atitude não vai deixar você ficar...
Morto! Preste muita atenção,
Abra o olho, o ouvido e se possível o coração.
Pois, já não quero viver
como um parasita vegetando igual a você.
É tiro de canhão, tijolada detonada que saiu da minha mão.

E eu grito BOOM!! Pra explicar a explosão.
O som que transforma qualquer situação em fato!
Que não dá pra explicar,
simplesmente acontece e não dá pra parar.
Hey!! Olhe pra mim,
quando digo que isso não vai ficar assim.

Me gusta de reggae,
me gusta punk rock
arriba muchachos,
DON'T STOP!

"Mais uma música que escrevi pra tocar no Cabeçudos. Gosto muito da dinâmica dessa música. Punk rock com ska cru e direto!"

Faixa 06. (Longe de La Ley)

Vivo caminhando por toda a cidade
sempre à procura de não sei o quê,
estou sempre tranquilo pois nada me abala.
Esse é o lugar onde sempre estarei
Longe de la ley!

"Lembro bem o dia que escrevi essa música. Eu estava descendo a Av. Niemayer em São Conrado onde eu morava. Ali em cima da mureta, caminhando até o Fashion Mall pra pegar o ônibus, veio essa melodia na minha cabeça e ficou o dia todo, até eu escrever os primeiros versos. É uma letra curtinha mas que diz muita coisa pra mim!"

Faixa 07. (O Tubarão)

Tá quase sempre com a prancha de surf,
de back ou de front você se dá bem.
Grande manobra mas que alegria,
só tenha cuidado com o tubarão.

O tubarão!

Na crista da onda você não vê nada,
desce rasgando não quer nem saber.
Virgem Maria que bicho danado,
se você der mole ele vai te comer.

O tubarão!

Pega a prancha vai pro mar,
põe a perna dentro d'água.
De repente uma fisgada,
nossa mais que emoção!
Só perdeu o pé direito,
isso quase não é nada.
Foi escolhido entre uma porrada
pelo nobre tubarão.

O tubarão!

"Depois de ver no Jornal Nacional que um conhecido meu que era surfista e morava no mesmo condomínio, e quase perdeu a perna pegando onda em Recife. Resolvi escrever sobre o assunto. A coisa mais estranha é que o apelido dele bem antes do incidente já era, CAPENGA!"

Faixa 08. (Sacudindo a Massa)

Sou persistente meu amigo e isso faz sentido
ser teimoso para mim é mais um incentivo
quando quero alguma coisa corro atrás o tempo inteiro
ou melhor, eu vou na frente pra chegar primeiro.
Não tem parada, não tem caô,
vamos sacudindo a massa seja onde for.
Quero ver quebrar, requebrar geral,
sei que isso não faz mal!

Sacudindo a massa!
Fica na moral!

Na baixada, do meu Rio de Janeiro.
A galera dá um gás é pogo loco o tempo inteiro.
É panela de pressão num fogão industrial
e o que se cozinha dentro é algo muito especial.
Desse prato eu garanto, você pode se servir.
É!! Pode até repetir
só tome cuidado com uma auto-combustão
ou uma indigestão.

Sacudindo a massa!
Fica na moral!

"Essa também era tocada no Cabeçudos, mas era num outro andamento. E eu mudei a parte da letra que dizia: "Sou Cabeçudo meu amigo, e isso faz sentido..." A palavra persistente ficou bem melhor!"

Faixa 09. (Na Cabine)

Entre quatro paredes, eu via o dia passar.
Por onde eu não sei, só sei que passou,
então deixa pra lá.
A necessidade faz com que um homem ature,
coisas que ele nunca pensou em aturar.
Oito horas por dia dentro de uma gaiola,
regime semi-aberto com direito à uma hora,
pra comer com muito gosto sua nobre refeição.
Dois hambúrgueres, alface, queijo e molho especial
tudo isso dentro de um pão.

Entre carros e motos, caminhões e utilitários
entra um monte de piranha e um bando de playboy otário,
ouvindo RACIONAIS e se sentindo marginal de condomínio
que só manda no playground.
Geração shopping center condenada a vadiagem
vivendo as custas da família, mas que puta sacanagem
chegou a hora da verdade e é agora...
se não gostou levanta o rabo e vai embora!

"Quando escrevi essa música eu trabalhava no estacionamento do Barra Shopping. Era foda ficar levantando cancela o dia todo pra um bando de pela saco mal educado. Na hora do almoço não tinha jeito, o vale que a gente ganhava quase sempre era pra comer no MC Donald's. Meu horário era de 17 horas até 24:30, era foda aturar os filhinhos de papai indo pro Rock in Rio Café nos finais de semana. Uma vez, eu estava quase na hora de ir embora, cheio de sono. Parou um carro do lado da cabine pra pegar o papel do estacionamento, quando o vidro desce, o filho da puta estava com uma máscara de diabo. Não era uma mascarazinha baratinha do Saara não, era das caras bem feitas e bem reais. Porra, dei um pulo da cadeira com o susto e ainda tive que aguentar as gargalhadas."

Faixa 10. (Briga de Galo)

Não é o que parece ser,
fogo cruzado ou ilê aiê.
Briga de galo não é carnaval
e a poeira que sobe é serragem de pau.
Sinta a emoção debaixo das penas,
dois corações batendo à mil.
Aqui não é mais que uma simples arena,
pra ser sincero é mais um covil.

Viu? Eu disse pra você!
viu? O que tem a dizer?

Espora na carne marca o surdão,
é bem sagaz o da percursão.
Mete a porrada pra leventar
põe gás aí então, vamos lá.
O que sobrar a gente põe na panela,
o perdedor dá um belo jantar.
Só peço que guarde pra mim a moela,
esse daí nunca mais vai brigar!

Viu? Eu disse pra você!
viu? O que tem a dizer?

"Briga de galo foi escrita pra um tio meu, que tinha rinha em sua chácara. Eu era criança e muitas vezes via ele trazer o animal desfalecendo e entregando pra minha avó cozinhar. Muita crueldade!"

Faixa 11. (Loucos)

Somos loucos, todos felizes,
vivemos aqui e nos tratam como animais,
as vezes nos batem, nos chutam nos prendem,
mas nós somos loucos pra nós tanto faz.
Aqui no manicômio é muito legal,
eles nos dão comida que a um cão faria mal.
Aqui todos vivem, todos iguais,
na mesma merda tratados como animais.

Falo, falo, você tem que me escutar,
não aceito a lei do silêncio não vou me calar.
Não ponho o rabo entre as pernas, não aceito omissão,
pode falar o que quiser, só não me encoste a mão.
Na verdade é muito fácil basta acreditar,
sou mais um louco natural de Jacarepaguá,
Cidade de Deus, Taquara tudo em cima,
tiro pro alto mais uma bala perdida!

"Essa foi mais uma letra escrita em parceria com o Vinícius. A primeira parte ele escreveu e eu só tive que complementar com uma segunda parte."

Faixa 12. (Cadáver Cucaracha)

Tá lá um corpo estendido no chão
prepare os peritos pra reconstituição.
Mataram a coitada pela manhã,
jogada, largada trás do sofá.
Um criminalista aqui por favor,
bata uma foto não vou arquivar.
Os peritos chegando, manda entrar.
Não toquem em nada, um café por favor!

A imprensa lá fora querendo entrar,
me diga uma coisa, foi facada ou tiro?
Rádio, jornal e televisão...
aguarde um momento, já já eu te digo.

Foi levada às pressas para o IML,
descobriram RAID veneno mortal,
ingerido durante o café da manhã.
Coitada tão nova que morte brutal!
Existe a suspeita de novos cadáveres.
Será que algum tipo de seita?
Vamos abafar esse caso agora,
fique tranquilo, nossa parte foi feita!

"Cadáver cucaracha é uma analogia com as manchetes de jornais. Aqui estou dando bastante ênfase a morte de uma barata!"

Faixa 13. (A raiva)

Porque tanta maldade?
Porque tanta loucura?
Estamos regredindo, precisando de ajuda.
Para o nosso próprio bem, precisamos repensar,
todos os nossos valores, isso vai ter que mudar!

Eu não quero mais viver assim!

A mercê da violência, sem saber se vou durar,
pra ver minha filha crescer e o próximo inverno chegar.
Um sentimento de revolta toma conta de mim,
não quero mais impunidade, isso não pode mais ficar assim!

Eu não quero mais viver assim!

Não dá pra fugir, não dá pra escapar.
Seja onde for, ela vai estar lá.
Pronta pra te consumir, pronta pra te devorar,
toda essa raiva, um dia vai te matar!
Te matar!

"Quando a Dominique nasceu, veio junto muita insegurança. Não era mais só EU contra o mundo, agora havia uma criança que dependia de mim. E é aí que você para pra olhar a sua volta e percebe que vive num mundo violento e cheio de injustiças. Na verdade é besteira achar que devemos fazer um mundo melhor pras nossas crianças. Devemos sim, criar crianças melhores pra melhorar esse mundo. Só assim haverá um futuro!"


Parte do encarte do CD Simplesmente Simples feito pelo Fabio.

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Um comentário:

  1. "Me gusta reggae me gusta punk rock
    arriba muchachos don't stop.

    É uma das minhas preferidas desse CD.

    È Russo quem se Importa...

    Abração

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